Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.
Hebreus 10:25
Nesse quase fim do período de distanciamento social a que foi acometido o mundo a pergunta que fica é: E agora? E depois?
Se a sua vida simplesmente voltar a normalidade anterior, acredito que você não tenha aprendido nada nesse tempo.
Sem querer entrar no mérito da discussão que circunrodeou palcos de religiosos ávidos por justificativas divinas, se foi Deus que enviou o vírus como um castigo, guardadas as devidas proporções, um novo dilúvio; se foi meramente uma arma biológica; ou qualquer motivo diferente que tenham dito. O que devemos sempre, com olhos atentos e ouvidos abertos, é perceber que em todas as situações podemos tirar lições.
A obrigatoriedade de nos distanciarmos uns dos outros nos levou a origem da igreja: o lar!
Nossas casas voltaram a ser o local de culto primário e anúncio do evangelho.
Ali, na nossa sala, ou quarto, sem os palcos que nos dão grande visibilidade. Sem o aparato tecnológico que nos permite produzir um espetáculo admirável do ponto de vista artístico e no qual até nos orgulhamos dizendo muitas vezes "pra Deus o melhor".
O terno deu lugar a camiseta normal, bermuda, chinelos.
O baner com logotipo da denominação foi trocado pela parede do fundo da sala que em alguns lares carece até mesmo de uma renovação de pintura.
Os instrumentos musicais foram desligados e ouvimos apenas nossas vozes, com algumas exceções o som tímido de um violão.
Eu sei que muito de vocês anseiam por retornar todo domingo ao local que consideram sagrado e chamam casa de Deus. Mas tenha calma e entenda o ensinamento de Deus nesse período turbulento.
Eu gosto muito desse texto de Hebreus e já o uso há mais de 1 década quando o fenômeno dos chamados desigrejados estava ganhando fama pelo mundo, por ser repleto de ex membros denominacionais que resolveram largar o convencional pelas reuniões caseiras em grupos pequenos.
Esse grupo, do qual faço parte, por anos tem sido atacado por essa forma de cultuar a Deus.
Na visão dos que atacam, eles deveriam fazer parte de um modelo padrão atual.
O autor de Hebreus discorda desse ataque.
Nesse texto, o advérbio de modo "COMO" faz toda diferença para entendermos esse texto.
Reunir-nos "como" igreja e não Reunir-nos NA igreja.
Igreja não é um local específico, então o que é?
A palavra Igreja origina do grego eclesia, citada por Jesus em Mt 16:18 E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.
Jesus, motivado pela afirmação de Pedro do qual ele (Jesus) era o Cristo filho do Deus vivo, usou a palavra igreja pela primeira vez.
Contudo, esse termo surgiu 500 anos antes de Jesus na Grécia antiga com o filósofo grego Sólon, ao organizar uma reunião, ou assembléia, ou encontro de pessoas fora do ambiente político tradicional ateniense, ou simplesmente "os de fora do sistema".
500 anos depois, Jesus diz que baseado na afirmação de que ele era o Cristo filho do Deus vivo, estava estabelecendo sua igreja, ou reunião, ou assembléia, ou grupo de pessoas comuns de fora do sistema reliogos tradicional judeu.
A igreja ficou conhecida na sua origem por pessoas de fora de um sistema religioso padrão.
Estabeleceu seus locais de encontro em pontos públicos, até que com a perseguição teve de se refugiar nos lares, onde permaneceu por 3 séculos seguidos crescendo e afrontando os poderes politicos e religiosos de sua época.
A igreja de Cristo nunca precisou de lugar, ela só precisa ser.
Basta estar edificada sobre o fundamento de que Cristo é o filho do Deus vivo.
Se teu encontro dominical no local habitual te faz cristão só ali... Tenho péssimas notícias pra você. Aquele teu vizinho chamado "desigrejado" por cultuar em casa tem mais de Cristo nele que você.
John Wesley, evangelista inglês do século XVIII fundador do movimento metodista dizia: Meu púlpito é o mundo!
Ele entendeu que todo lugar era extensão da igreja desde que ele estivesse reunido COMO igreja.
Faça de sua casa, trabalho, lazer, ou qualquer ambiente uma extensão da verdade que edificou a igreja: Cristo é o filho do Deus vivo!
sábado, 25 de abril de 2020
domingo, 19 de abril de 2020
Liturgia - sofrimento
José observava o modo como seu avô cuidava das feridas daquele homem e mal conseguia respirar no mesmo ambiente por causa do odor de alcool que exalava do homem ferido. José ainda percebeu em seu bolso um cachimbo e uma substância que ele nunca viu alguma vez na vida, mas imaginava que era droga e lembrou dos alertas que faziam em Liturgia para não se aproximar de alguém que usasse drogas, como tudo aquilo era errado e abominável aos olhos de Deus.
"Não vos embriagueis com vinho onde há contenda" dizia o pastor que ocasionalmente era visto por José em seu escritório tomando uma taça que ele ganhava nas suas saídas diplomáticas da cidade.
Seu avô, percebendo o olhar duvidoso do neto perguntou:
- O que passa ness sua cabeça?
- Nada demais, vovô. Fico pensando quais pecados esse homem pode ter cometido pra cair numa desgraça de vida como essa.
- Coisas da vida...
- Mas não pode ser casual, deve ter alguma explicação.
- E qual você sugere, José?
- Reflexo de uma vida longe de Deus, de promiscuidade, de egoísmo. Se ele estivesse numa igreja, jamais estaria aqui sofrendo cheio de feridas e entorpecido pelo alcool e sabe lá mais o que. Esse tipo de coisa não acontece a quem serve a Deus. Porque Deus não permite que seus servos colham tais males.
- Então para você tudo se resume em plantar e colher, José?
Não seja tão binário. O sofrimento tem causas que talvez jamais possamos entender e estamos todos sujeitos a ele.
Deixa eu te contar uma história...
Poucos meses depois de sair de Liturgia, conheci um jovem, pouco mais velho que você, tinha um nome diferente, Jenz, e carinhosamente o chamava de Jota.
Jota também teve uma criação religiosa como a nossa, também tocava e cantava, ensinava a bíblia e tudo o que nós dois fizemos e fazemos.
Jota se casou jovem, aos 19 anos, com uma moça da igreja, virgens, tudo conforme regia o protocolo.
Ela cantava, ele tocava, os dois lideravam o grupo de jovens da igreja. A família de ambos também frequentava a igreja. O pai do Jota inclusive viajava bastante como missionário.
Tudo perfeitamente bem na vida deles.
Um dia, Jota teve uma reunião no trabalho que ocupou mais seu tempo do que deveria. Ele tinha culto de jovens naquela noite e não daria tempo de voltar para casa, pegar sua esposa e ir a igreja ensaiar para o culto. Então, ele ligou para seu melhor amigo, padrinho de casamento e também um dos líderes de jovens juntamente com ele e pediu ao amigo que passasse para buscar sua esposa em casa e encontraria com eles na igreja.
O amigo foi...
No caminho até a igreja, os dois foram surpreendidos no caminho com uma carreta que avançou na pista contrária e atingiu o carro onde estava o amigo e esposa vitimando-os ali mesmo.
Jota perdeu no mesmo dia o melhor amigo e sua esposa.
Ficou arrasado.
Reação mais natural possível. Mas em momento algum ele praguejou ou questionou a Deus por que estava sendo acometido a uma dor tão grande se em nenhum momento ele fez algo que pudesse merecer aquilo.
Pouco tempo depois, Jota ainda descobriu que tinha um câncer e logo começou um tratamento. Debilitado, frágil, sofrendo ainda a perda do amigo e esposa. Teve de ouvir do pai as mesmas palavras que você pronunciou, que dizem diariamente em Liturgia - Você está colhendo algo que plantou - "Está em pecado" dizia o pai, "Deus está tratando contigo", etc.
Pai este que se afastou ainda mais do filho para não se contaminar com seu suposto pecado.
Jota sofreu bastante com o tratamento que nunca teve efeito de fato, o câncer se espalhou e ele morreu aos 23 anos.
Morreu para os médicos, segundo o laudo do óbito. Morreu seu corpo frágil, esse mesmo que você e eu temos, que o tempo desgasta. Mas eu gosto de pensar que ele foi resgatado por Deus desse sofrimento e está agora mesmo junto a Ele. Conhecendo o amor de um Pai de verdade, numa intensidade de escala que jamais imaginaríamos existir. Que esse corpo frágil não suportaria.
Então, José... Eu te pergunto: O que fez ele de tão grave para ter tamanho sofrimento?
"Não vos embriagueis com vinho onde há contenda" dizia o pastor que ocasionalmente era visto por José em seu escritório tomando uma taça que ele ganhava nas suas saídas diplomáticas da cidade.
Seu avô, percebendo o olhar duvidoso do neto perguntou:
- O que passa ness sua cabeça?
- Nada demais, vovô. Fico pensando quais pecados esse homem pode ter cometido pra cair numa desgraça de vida como essa.
- Coisas da vida...
- Mas não pode ser casual, deve ter alguma explicação.
- E qual você sugere, José?
- Reflexo de uma vida longe de Deus, de promiscuidade, de egoísmo. Se ele estivesse numa igreja, jamais estaria aqui sofrendo cheio de feridas e entorpecido pelo alcool e sabe lá mais o que. Esse tipo de coisa não acontece a quem serve a Deus. Porque Deus não permite que seus servos colham tais males.
- Então para você tudo se resume em plantar e colher, José?
Não seja tão binário. O sofrimento tem causas que talvez jamais possamos entender e estamos todos sujeitos a ele.
Deixa eu te contar uma história...
Poucos meses depois de sair de Liturgia, conheci um jovem, pouco mais velho que você, tinha um nome diferente, Jenz, e carinhosamente o chamava de Jota.
Jota também teve uma criação religiosa como a nossa, também tocava e cantava, ensinava a bíblia e tudo o que nós dois fizemos e fazemos.
Jota se casou jovem, aos 19 anos, com uma moça da igreja, virgens, tudo conforme regia o protocolo.
Ela cantava, ele tocava, os dois lideravam o grupo de jovens da igreja. A família de ambos também frequentava a igreja. O pai do Jota inclusive viajava bastante como missionário.
Tudo perfeitamente bem na vida deles.
Um dia, Jota teve uma reunião no trabalho que ocupou mais seu tempo do que deveria. Ele tinha culto de jovens naquela noite e não daria tempo de voltar para casa, pegar sua esposa e ir a igreja ensaiar para o culto. Então, ele ligou para seu melhor amigo, padrinho de casamento e também um dos líderes de jovens juntamente com ele e pediu ao amigo que passasse para buscar sua esposa em casa e encontraria com eles na igreja.
O amigo foi...
No caminho até a igreja, os dois foram surpreendidos no caminho com uma carreta que avançou na pista contrária e atingiu o carro onde estava o amigo e esposa vitimando-os ali mesmo.
Jota perdeu no mesmo dia o melhor amigo e sua esposa.
Ficou arrasado.
Reação mais natural possível. Mas em momento algum ele praguejou ou questionou a Deus por que estava sendo acometido a uma dor tão grande se em nenhum momento ele fez algo que pudesse merecer aquilo.
Pouco tempo depois, Jota ainda descobriu que tinha um câncer e logo começou um tratamento. Debilitado, frágil, sofrendo ainda a perda do amigo e esposa. Teve de ouvir do pai as mesmas palavras que você pronunciou, que dizem diariamente em Liturgia - Você está colhendo algo que plantou - "Está em pecado" dizia o pai, "Deus está tratando contigo", etc.
Pai este que se afastou ainda mais do filho para não se contaminar com seu suposto pecado.
Jota sofreu bastante com o tratamento que nunca teve efeito de fato, o câncer se espalhou e ele morreu aos 23 anos.
Morreu para os médicos, segundo o laudo do óbito. Morreu seu corpo frágil, esse mesmo que você e eu temos, que o tempo desgasta. Mas eu gosto de pensar que ele foi resgatado por Deus desse sofrimento e está agora mesmo junto a Ele. Conhecendo o amor de um Pai de verdade, numa intensidade de escala que jamais imaginaríamos existir. Que esse corpo frágil não suportaria.
Então, José... Eu te pergunto: O que fez ele de tão grave para ter tamanho sofrimento?
segunda-feira, 13 de abril de 2020
Liturgia 2
- Mas isso não é errado?
- E por quê seria?
- Em Liturgia aprendemos que as relações de amor são entre homem e mulher; pais e filhos; e entre os irmãos de fé. Fora isso é errado.
- Em Liturgia! Mas você não está lá agora, está? Eu perguntei a você.
- Eu não sei ao certo. Não me parece natural que dois homens ou duas mulheres tenham uma relação de amor.
- O amor não segue regras, José. Para ser amor, é preciso ser livre.
- Mas as pessoas não vão para o inferno por isso?
- Inferno é onde não há alguém para amar! Você está morto quando perde a capacidade de amar e está condenado por isso.
Quando você permite amar sem regras, sem dogmas, você então ama de verdade.
Em Liturgia as pessoas vivem cegas em regras morais, em códigos de conduta legalistas, presos num sistema falido que não gera empatia entre os outros, apenas robotiza as pessoas em coisas que parece amor, parece liberdade, e não são. O amor é selvagem, José. Ele é bicho solto que corre livre entre as pessoas buscando vidas abertas para entrar e estabelecer morada. E ele precisa ser livre para entrar nessas vidas e transformá-las, moldá-las. Ele precisa esvaziar você de tudo o que te ensinaram errado, e quando não houver mais nada aí, então você será inundado de compaixão, de bondade, de empatia, de amor de verdade.
José olhava espantado enquanto seu avô continuava falando sobre amor de uma forma que ele jamais ouviu antes em Liturgia.
- Você aprendeu a amar pessoas que agem dentro de um determinado padrão aceitável em Liturgia. Agora você precisa amar ao próximo e deixar esse amor aos iguais de lado. Amor enlatado, engarrafado, enjaulado não é amor de verdade. Seja livre, ame na diversidade!
- O que é pecado então, vovô?
- José, eu peco quando eu destruo qualquer possibilidade de me relacionar com as pessoas. Eu peco quando segrego. Eu peco quando sou mau para mim e para os outros. Eu peco quando sou bom só para mim e não para os outros e também quando sou mau a mim e tento passar uma ideia de benevolente aos outros.
Tire a ideia de pecados catalogados da sua cabeça. No máximo, as pessoas pecam de forma diferente de você.
- E por quê seria?
- Em Liturgia aprendemos que as relações de amor são entre homem e mulher; pais e filhos; e entre os irmãos de fé. Fora isso é errado.
- Em Liturgia! Mas você não está lá agora, está? Eu perguntei a você.
- Eu não sei ao certo. Não me parece natural que dois homens ou duas mulheres tenham uma relação de amor.
- O amor não segue regras, José. Para ser amor, é preciso ser livre.
- Mas as pessoas não vão para o inferno por isso?
- Inferno é onde não há alguém para amar! Você está morto quando perde a capacidade de amar e está condenado por isso.
Quando você permite amar sem regras, sem dogmas, você então ama de verdade.
Em Liturgia as pessoas vivem cegas em regras morais, em códigos de conduta legalistas, presos num sistema falido que não gera empatia entre os outros, apenas robotiza as pessoas em coisas que parece amor, parece liberdade, e não são. O amor é selvagem, José. Ele é bicho solto que corre livre entre as pessoas buscando vidas abertas para entrar e estabelecer morada. E ele precisa ser livre para entrar nessas vidas e transformá-las, moldá-las. Ele precisa esvaziar você de tudo o que te ensinaram errado, e quando não houver mais nada aí, então você será inundado de compaixão, de bondade, de empatia, de amor de verdade.
José olhava espantado enquanto seu avô continuava falando sobre amor de uma forma que ele jamais ouviu antes em Liturgia.
- Você aprendeu a amar pessoas que agem dentro de um determinado padrão aceitável em Liturgia. Agora você precisa amar ao próximo e deixar esse amor aos iguais de lado. Amor enlatado, engarrafado, enjaulado não é amor de verdade. Seja livre, ame na diversidade!
- O que é pecado então, vovô?
- José, eu peco quando eu destruo qualquer possibilidade de me relacionar com as pessoas. Eu peco quando segrego. Eu peco quando sou mau para mim e para os outros. Eu peco quando sou bom só para mim e não para os outros e também quando sou mau a mim e tento passar uma ideia de benevolente aos outros.
Tire a ideia de pecados catalogados da sua cabeça. No máximo, as pessoas pecam de forma diferente de você.
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