segunda-feira, 13 de abril de 2020

Liturgia 2

- Mas isso não é errado?
- E por quê seria?
- Em Liturgia aprendemos que as relações de amor são entre homem e mulher; pais e filhos; e entre os irmãos de fé. Fora isso é errado.
- Em Liturgia! Mas você não está lá agora, está? Eu perguntei a você.
- Eu não sei ao certo. Não me parece natural que dois homens ou duas mulheres tenham uma relação de amor.
- O amor não segue regras, José. Para ser amor, é preciso ser livre.
- Mas as pessoas não vão para o inferno por isso?
- Inferno é onde não há alguém para amar! Você está morto quando perde a capacidade de amar e está condenado por isso.
Quando você permite amar sem regras, sem dogmas, você então ama de verdade.
Em Liturgia as pessoas vivem cegas em regras morais, em códigos de conduta legalistas, presos num sistema falido que não gera empatia entre os outros, apenas robotiza as pessoas em coisas que parece amor, parece liberdade, e não são. O amor é selvagem, José. Ele é bicho solto que corre livre entre as pessoas buscando vidas abertas para entrar e estabelecer morada. E ele precisa ser livre para entrar nessas vidas e transformá-las, moldá-las. Ele precisa esvaziar você de tudo o que te ensinaram errado, e quando não houver mais nada aí, então você será inundado de compaixão, de bondade, de empatia, de amor de verdade.
José olhava espantado enquanto seu avô continuava falando sobre amor de uma forma que ele jamais ouviu antes em Liturgia.
- Você aprendeu a amar pessoas que agem dentro de um determinado padrão aceitável em Liturgia. Agora você precisa amar ao próximo e deixar esse amor aos iguais de lado. Amor enlatado, engarrafado, enjaulado não é amor de verdade. Seja livre, ame na diversidade!
- O que é pecado então, vovô?
- José, eu peco quando eu destruo qualquer possibilidade de me relacionar com as pessoas. Eu peco quando segrego. Eu peco quando sou mau para mim e para os outros. Eu peco quando sou bom só para mim e não para os outros e também quando sou mau a mim e tento passar uma ideia de benevolente aos outros.
Tire a ideia de pecados catalogados da sua cabeça. No máximo, as pessoas pecam de forma diferente de você.

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