Nestes dias tão
corriqueiros para muitos, tão repetitivo para outros, tão formal e cheio de
cerimonias para tantos, ainda se faz possível apresentar algo novo nestes dias
de Natal.
Como
pode isto ter acontecido? Como pode ser tão grande amor? Como podemos ainda
perceber depois de mais de dois mil anos, tamanha manifestação que ultrapassa
os séculos? Por que ainda hoje esta mensagem é aquela que abrilhanta a vida
daqueles que se deixam vislumbrar o Deus-menino na manjedoura? Essas perguntas
podem nos apresentar diversas possibilidades de respostas, mas todas elas não
podem deixar de passar pela manjedoura, pois é a partir dela que passamos a
questionar a possibilidade de aprendermos sobre a Graça!
No
santo evangelho de Lucas (Lucam 2: 25 – 32) diz:
25 Et ecce homo erat in Ierusalem, cui nomen Simeon, et homo iste iustus
et timoratus, exspectans consolationem Israel, et Spiritus Sanctus erat super
eum; 26 et responsum acceperat ab Spiritu Sancto non visurum se mortem nisi prius
videret Christum Domini. 27 Et venit in Spiritu in templum. Et cum inducerent
puerum Iesum parentes eius, ut facerent secundum consuetudinem legis pro
eo, 28 et ipse accepit eum in ulnas suas
et benedixit Deum et dixit: 29 “Nunc dimittis servum tuum, Domine, secundum verbum tuum in pace, 30 quia viderunt oculi mei salutare tuum, 31 quod parasti ante faciem omnium populorum, 32 lumen ad
revelationem gentium et gloriam plebis tuae Israel ”.
O texto sagrado nos apresenta o homem
justo, Simeão, que pôde em seus últimos dias de vida ter um encontro com o
Deus-menino. Movido pela esperança, esperança essa oriunda daquele que é
Eterno, e que eternamente anunciou que Simeão não morreria antes de ver a
Esperança (Spe) encarnada. Este homem justo, não justo devido à uma apreciação
da justiça humana, ou devoto pelo fardo que tornara execrável a ritualística
religiosa, este homem é cotado como justo e devoto, pois nele podemos encontrar
a simplicidade requisitada aqueles que creem. Simeão é uma símbolo de como a
todo homem de boa fé se faz possível enxergar o Cristo repousado na manjedoura,
a salvação, a luz para revelação gentílica e a glória para o povo de Israel.
Somos
impelidos a ouvir mais uma vez da Terra Santa para cristãos, judeus e
mulçumanos, onde a cada ano somos levados a refletir sobre o acontecimento de
Belém. A esperança do mundo fez-se homem na figura de um menino, na figura de
uma criatura, e como ficamos admirados com tamanha ousadia e bondade de Deus,
apresentar-se assim, fragilmente e dependente. Então não seria essa a proposta
da esperança que se renova no Natal, a de apresentar-se mais de perto a
humanidade na fragilidade de uma criança, na dependência de um bebê, mas que ao
mesmo tempo, se renova a todos aqueles que podem contemplá-la, a própria ideia
de esperança? Percebamos algo mais intimamente. Simeão notou essa proposta, ele
idoso, nos dias últimos de sua vida, sem mais expectativas, fora renovado pela
esperança de contemplar a face de Deus! Sua expectativa, ou seja, estar a
espera de, cumpriu-se e vimos o anúncio pronunciado em suas palavras:
“Nunc dimittis servum tuum, Domine, secundum verbum tuum in pace, 30 quia
viderunt oculi mei salutare tuum, 31 quod parasti ante faciem omnium populorum,
32 lumen ad revelationem gentium et gloriam plebis tuae Israel.”
As palavras de Simeão anuniaram ainda
coisas em que devemos nos atentar, atentar para a salvação que a todos é
propiciada, que a todos é agraciada e presenteada, a Salvação que chegou na
cidade de Davi. Nos diz também, que a salvação não era exclusiva de um povo,
rompendo assim, toda e qualquer arrogância que pudesse existir, e como ainda
nos toca essa necessidade de compreensão, onde vemos países ostentarem o
baluarte de exclusividade que alimenta a prepotência, o preconceito, o ódio, a
xenofobia, a guerra, entre outros. A luz salvívica atinge agora a todos os
povos, a todas as nações, a cada sujeito independente de sua origem étnica, ou
condição social, a luz veio ao mundo e habitou entre nós.
A esperança que movera
este simples homem deve ser o símbolo exemplar de como podemos esperar com grande
alegria para vermos a face de Deus, de como somos guiados ao Deus-menino se
atentos estivermos a justiça e temor de Deus. A esperança que estrapola a
mundanidade e se aconchega aos corações sinceros e de boa fé, a esses corações
podemos antecipar a chegada da salvação, que desfaz do tempo, abrilhanta nossa
alma e nos dá motivos para acreditar que a chegada do Emanuel (Deus conosco),
trouxe o homem novamente ao contato com a eternidade, por isso a esperança que
se espera da manjedoura não é uma esperança perecível, mas que nos possibilita,
mesmo em um mundo repleto de dores, manifestadas na alma do homem e também em
sua carne, das formas mais crueis que podem existir, uma esperança perene
trazida dos céus, que nos permite seguir com júbilo e alegria.
Danilo Reis
Danilo Reis