Em Mateus 10:34 vemos Jesus dizer “Não pense que vim
trazer paz à terra, não vim trazer paz, mas espada.”
Conforme dito no texto anterior, Jesus é o príncipe da paz
profetizado por Isaías.
Até mesmo Jesus diz que bem-aventurados são os pacificadores
(Mateus 5:9); e Paulo diz que um dos atributos do reino de Deus é paz (Romanos
14:17)
Enfim, eu poderia colocar vários textos mostrando que Jesus é
pacificador e sua mensagem é de paz, mas eu preciso responder a questão primária
que deu origem a esse texto: por que ele diz ter vindo trazer espada e não
guerra?
Essa é uma frase paradoxal e simples de entender.
O evangelho do Reino de Deus, que é o evangelho que Jesus
prega e orienta os discípulos a pregar igualmente seria causa de divisão entre as
pessoas.
Os judeus esperavam um Messias que trouxesse sim um reino de
paz a Israel, mas que até estabelecer essa paz, ele travaria batalhas contra os
inimigos de Israel e os mataria até que não houvesse mais inimigos.
O Messias esperado traria paz através da guerra e essa nunca
foi a mensagem de Jesus.
O evangelho do Reino de Deus ensina o amor, o perdão, a
compaixão, o cuidado, o zelo, o auxílio aos necessitados, ensina a partilha de
bens, e renega qualquer tipo de violência.
Essa mensagem, por ser contrária a mensagem que o povo esperava,
causaria divisão entre os judeus colocando uns contra os outros.
E isso realmente aconteceu, como por exemplo, na entrada de
Jesus em Jerusalém (já citado no texto anterior) ele é recebido por uma
multidão dizendo “Hosana ao filho de Davi, Bendito é o que vem em nome do
Senhor! Hosana nas alturas!”.
Enquanto na condenação, uma outra multidão clama pela sua crucificação
(Mateus 27).
Alguns poderiam dizer que se tratava do mesmo povo, mas não.
Mateus 21 a palavra usada no grego é oxlos e Mateus 27
usa laós.
A diferença básica entre as duas palavras que traduzem
multidão é que oxlos era mais usado pra se referir a multidões de forma
genérica enquanto laós era usado pra se referir a elite, ao povo mais
importante.
Percebem como os eventos são parecidos tanto na história de
Salomão e seu irmão que tentou usurpar seu trono e nessa de Jesus?
Nas duas histórias a elite preteriu um rei de paz.
O que me chama atenção nessas duas histórias é como parte da
igreja passou séculos escondendo esses pequenos detalhes que nos revelam o
quanto as causas sociais tão presentes nos discursos de hoje já eram comuns
naquele tempo.
Como passamos anos ensinando de domingo a domingo sobre um
Deus que aparentemente não está nem aí com aquilo que acontece com a
humanidade?
Por que não nos concentramos em ensinar que o Reino de Deus prega
a paz?
Essa era divisão que Jesus trouxe em seu tempo e até hoje
causa discórdia entre cristãos. Todo dia quando alguém se levanta e propõe
ensinar sobre justiça social, sobre amor, sobre paz, sobre igualdade, coisas
essas que fazem parte da mensagem do evangelho, essas pessoas sofrem com
ataques da própria comunidade cristã.
Jesus realmente nos dividiu entre aqueles que carregam sua
bandeira de paz e justiça a partir daqui entre aqueles que acreditam que estão
aqui porque foram escolhidos e por isso são melhores e maiores que os outros e
a única paz que lhes interessa é a sua própria paz. Uma paz egoísta que não une
pessoas se elas não pensarem iguais, não acatarem as questões de um seleto
grupo.
Qual é a sua paz?