segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Príncipe da paz - parte 2

 

Em Mateus 10:34 vemos Jesus dizer “Não pense que vim trazer paz à terra, não vim trazer paz, mas espada.”

Conforme dito no texto anterior, Jesus é o príncipe da paz profetizado por Isaías.

Até mesmo Jesus diz que bem-aventurados são os pacificadores (Mateus 5:9); e Paulo diz que um dos atributos do reino de Deus é paz (Romanos 14:17)

Enfim, eu poderia colocar vários textos mostrando que Jesus é pacificador e sua mensagem é de paz, mas eu preciso responder a questão primária que deu origem a esse texto: por que ele diz ter vindo trazer espada e não guerra?

Essa é uma frase paradoxal e simples de entender.

O evangelho do Reino de Deus, que é o evangelho que Jesus prega e orienta os discípulos a pregar igualmente seria causa de divisão entre as pessoas.

Os judeus esperavam um Messias que trouxesse sim um reino de paz a Israel, mas que até estabelecer essa paz, ele travaria batalhas contra os inimigos de Israel e os mataria até que não houvesse mais inimigos.

O Messias esperado traria paz através da guerra e essa nunca foi a mensagem de Jesus.

O evangelho do Reino de Deus ensina o amor, o perdão, a compaixão, o cuidado, o zelo, o auxílio aos necessitados, ensina a partilha de bens, e renega qualquer tipo de violência.

Essa mensagem, por ser contrária a mensagem que o povo esperava, causaria divisão entre os judeus colocando uns contra os outros.

E isso realmente aconteceu, como por exemplo, na entrada de Jesus em Jerusalém (já citado no texto anterior) ele é recebido por uma multidão dizendo “Hosana ao filho de Davi, Bendito é o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!”.

Enquanto na condenação, uma outra multidão clama pela sua crucificação (Mateus 27).

Alguns poderiam dizer que se tratava do mesmo povo, mas não.

Mateus 21 a palavra usada no grego é oxlos e Mateus 27 usa laós.

A diferença básica entre as duas palavras que traduzem multidão é que oxlos era mais usado pra se referir a multidões de forma genérica enquanto laós era usado pra se referir a elite, ao povo mais importante.

Percebem como os eventos são parecidos tanto na história de Salomão e seu irmão que tentou usurpar seu trono e nessa de Jesus?

Nas duas histórias a elite preteriu um rei de paz.

O que me chama atenção nessas duas histórias é como parte da igreja passou séculos escondendo esses pequenos detalhes que nos revelam o quanto as causas sociais tão presentes nos discursos de hoje já eram comuns naquele tempo.

Como passamos anos ensinando de domingo a domingo sobre um Deus que aparentemente não está nem aí com aquilo que acontece com a humanidade?

Por que não nos concentramos em ensinar que o Reino de Deus prega a paz?

Essa era divisão que Jesus trouxe em seu tempo e até hoje causa discórdia entre cristãos. Todo dia quando alguém se levanta e propõe ensinar sobre justiça social, sobre amor, sobre paz, sobre igualdade, coisas essas que fazem parte da mensagem do evangelho, essas pessoas sofrem com ataques da própria comunidade cristã.

Jesus realmente nos dividiu entre aqueles que carregam sua bandeira de paz e justiça a partir daqui entre aqueles que acreditam que estão aqui porque foram escolhidos e por isso são melhores e maiores que os outros e a única paz que lhes interessa é a sua própria paz. Uma paz egoísta que não une pessoas se elas não pensarem iguais, não acatarem as questões de um seleto grupo.

Qual é a sua paz?

 

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