sábado, 30 de janeiro de 2010

De Olhos Fechados



Você já experimentou andar de olhos fechados? Lembro que quando criança fazia isso com alguma freqüência. Eu achava incrível a possibilidade de reconhecer o espaço inibindo a capacidade da visão e explorando os outros sentidos. Lembro que o temor era pequeno e capaz apenas de me divertir. Não havia grandes riscos. Nada seria mais perigoso que uma topada de leve ou derrubar algum vaso da sala. Naturalmente que a minha mãe não gostava dessa última possibilidade. Mas em algum momento aquilo tudo cansava. Aquele jogo exigia uma cautela constante e eu sabia que se abrisse os olhos – e podia fazê-lo assim que desejasse – tudo estaria lá, tal como deixei, e as possibilidades voltariam a ser mais práticas e confortáveis.

Já adulto, aprendi outro jogo, muito simples, mas que lembrava em quase tudo a brincadeira de criança. O mesmo se estabelece na relação de dois indivíduos: um condutor e um conduzido. O condutor comanda o ritmo e a direção da outra pessoa, levando-a aonde lhe parecer mais interessante, dentro de uma sala cheia de obstáculos. O conduzido permanece o tempo todo de olhos fechados, mas pode abri-los assim que desejar. No entanto, espera-se que o mesmo nunca abra seus olhos. Obviamente não se trata de uma disputa, mas sim de um exercício de cuidado e confiança.

No fim das contas, ambos os jogos lidam, basicamente, com o mesmo elemento: a fé. Trata-se de acreditar mesmo sem ver. É pisar sem exata referência prévia. É se permitir levar aonde não se sabe, sob risco constante, e acreditar que acabará ileso. É confiar. É esperar com bom ânimo.

Essa parece uma boa metáfora para a vida de todo aquele que caminha em fé, e nela respalda sua vida. A grande diferença é que, na vida, os riscos são enormes e o que está e jogo pode ser vital. Entretanto, a fé exige que feche os olhos aquele que já conhece o perigo, e que encontre descanso em confiar nAquele que o conduz.

Jeremias talvez dissesse: Desafortunado é o homem que deposita sua confiança em sua própria humanidade, fazendo dela a sua força.

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