Quando se aproxima o advento Natalino, mesmo em um mundo tão indiferente e relativista, os olhos de muitos se apressam para olhar ainda que por curiosidade, se a face do menino-Deus ainda poderia falar-nos. Poderia pensar no mundo como o conjunto de faces que tentam no alento esperançoso, mirar por um instante aquele leito onde repousava o recém chegado, buscando nem que seja encontrar para si, o próprio repouso.
A manjedoura permite-nos anualmente renovar algumas certezas que o ano trata de nos incentivar a esquecer sob muitas faces, e no último ano, pudemos ver novamente a ascensão de faces transmutadas, faces desumanizadas, faces aterrorizadas com a guerra, com a rivalidade; faces divididas pela lacuna política; faces concretizando certezas sob o relativismo de ações inócuas e egocêntricas; faces maquiadas como cedro de identidade nacional, mas que expõe o autoritarismo intolerante e segregador. O mundo de faces, encontra no evidenciar das fronteiras culturais, partidárias, econômicas, religiosas, raciais, sexistas e afins, o suposto refúgio que traz uma falsa segurança. Inseridos em um cenário onde pouco repouso encontramos, onde nossa própria face está em questão, recorda-nos a sacra escritura quando Jacó, em um momento que iniciou-se com a angústia, pôde ele, ver a face de Deus no lugar o qual chamou de Peniel (Gêneses 32:30), encontrando ali, salvação. Ainda nas escrituras podemos ver o Salmista em um clamor: "Faze-nos voltar, ó Deus, e faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos." (Salmos 80:3), pedindo para que o Senhor Deus resplandecesse a sua face para que trouxesse salvação. A face de Deus, a face do Sagrado, a face do Criador, nas escrituras direciona-nos à própria salvação, ao caminho do repouso salvívico. Porém, especificamente nos textos selecionados, tanto o patriarca, quanto o salmista estavam diante de situações adversas, o mundo para eles não parecia ir nada bem, o medo, a insegurança etc., e coube a sinceridade de aproximar-se em oração e reconhecer ali, em Deus, o repouso na salvação.
A mensagem da manjedoura é ricamente desafiadora, e ao mesmo tempo animadora e acolhedora, pois, aproximar-se significa estar diante daquele que nos conhece. É estar diante da face que todo e qualquer ser humano tem (Gêneses 1:26), é lembrar que as faces se encontram em uma Face. Entretanto, qual face nos mostra a manjedoura? Ela alenta-nos a alma cansada de um mundo que prefere não ver o seu semelhante como tal, construindo muros, dividindo, desfazendo relações, apontando inimigos, conflitos e guerras. Ela nos apresenta a face de Deus, a face humilde do Criador que tornou-se homem. Ela rompe a maior fronteira que poderia existir, Deus e homem, Criador e criatura. Nela, na manjedoura, o homem pode ver que somos não povos, mas povo; não faces, mas face; não estrangeiros, mas semelhantes; não fronteiras, mas um mesmo terreno, o sagrado terreno do amor de Deus que nos traz salvação e repouso.
Que Deus relembre-nos sempre mais que a sua face nos dá salvação e nos conduz ao repouso de nossas almas, e que possamos lembrar que o outro, o nosso semelhante também pode ser visto na face do menino-Deus e que a paz possa recair sobre a terra em todos os seus mais remotos cantos (Lucas 2:14).
Por: Danilo Reis
(Teólogo e Filósofo)
Por: Danilo Reis
(Teólogo e Filósofo)