sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O Reino de Deus [Parte I]

"Ninguém tem maior amor do que aquele que da sua vida pelos seus amigos. Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu lhes ordeno. Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido." João 15:13-15

É comum vermos títulos eclesiasticos sendo distribuídos como fardas militares nas igrejas.
Como se um Apóstolo hj fosse um General; um Bispo fosse um Coronel; Pastor fosse Capitão, etc.

E me questiono até onde isso aí vai. Porque a palavra de qualquer "autoridade eclesiastica" virou lei dentro das igrejas: "Aqui trabalhamos segundo a visão do nosso pastor!". Estamos submissos a vontade dos homens do poder. Homens que como nós, um dia foram aceitos pela misericórdia de Deus, foram alcançados pela Graça que é favor imerecido, e então eu me questiono em que parte de nossa trajetória cristã, esse favor imerecido se torna merecido, pois o que outrora fora dado por Deus, pela e para glória de Deus, pode mudar de figura e se tornar merecido pelo homem, pela glória do homem?!

Sinceramente, eclesiasticamente, exegeticamente, a única resposta que posso aceitar nessa pergunta é NÃO!
Jamais algum de nós será digno de qualquer honra, pois aquele que mereceu toda honra, foi o que mais honrou.
Gosto muito de uma frase de Charles H. Spurgeon, onde ele diz o seguinte:
“Será que um homem que ama o seu SENHOR estaria disposto a ver JESUS vestindo uma coroa de espinhos, enquanto ele mesmo almeja uma coroa de louros? Haveria JESUS de ascender ao trono por meio da cruz, enquanto nós esperamos ser conduzidos para lá nos ombros das multidões, em meio a aplausos? Não seja tão fútil em sua imaginação. Avalie o preço; e, se você não estiver disposto a carregar a cruz de CRISTO, volte à sua fazenda ou ao seu negócio e tire deles o máximo que puder, mas permita-me sussurrar em seus ouvidos: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Entendo e sei que desde a igreja primitiva já haviam as divisões eclesiasticas. Cada qual fora designado para determinada função segundo a necessidade da Igreja. Mas ninguém exercia poder de mandar e desmandar em nada ou ninguém, havia-se um respeito mútuo. No geral todos entendiam que a última palavra já havia sido dada por Cristo que é o cabeça desse Corpo, que somos nós a Igreja, e que hj sabemos qual foi sua palavra rhema segundo o que encontramos no NT.
No texto acima vemos Cristo se dirigindo aos discípulos em uma conversa onde ele fala sobre o amor ao próximo. Sabemos que os discípulos tratavam a Cristo como mestre e sentiam orgulho em o servir. Então Cristo se dirige a eles nessa conversa e diz: “Já não os chamo mais servos, pois um servo não sabe o que o seu Senhor faz, os chamo AMIGOS!!!”
Cristo estreitou o laço que tinha com eles, e aboliu o termo servidão do meio deles, logo, não havendo mais servos, tbm não haveria mais um senhor, ou “líder”, no sentido de alguém que da as ordens.
Cristo mostrou que o amor dentro de uma amizade é superior a obediência de um servo ao seu senhor. E o serviço inutiliza o amor:
"Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer." Lucas 17:10
O que não anula o cumprimento de uma lei de princípios humano e divino, que Cristo estabeleceu na passagem de João 15, onde ele diz que se obedecermos aos mandamentos que eles nos deixou, permaneceriamos em seu amor (Jo 15:9; Mt 22:37-40).
A Igreja não pode se tornar um Estado. Ela não foi feita pra levantar líderes. Ela é uma escola de servos.
Deus não estabeleceu um Governo na terra onde ele precise de governadores. Deus estabeleceu um Reino. E todos nós somos parte desse Reino.
“Ele nos amou e nos libertou dos nosso pecados por meio do seu sangue, e nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai.” Ap 1:5-6
“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo escolhido de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” IPe 2:9
“Seu Reino não seria de servos, mas de amigos, e seus amigos deveriam reinar não como poderosos, mas servos. Jesus esteve ocupado em manter-se submisso ao Pai, guardando a exata relação de dependência e rendição. As expressções do poder seriam consequeências naturais. Curar pessoas, expulsar demônios, andar sobre as águas, alimentar multidões, ressuscitar mortos e falar com autoridade eram apenas os bons frutos da árvore boa, que mesmo sendo em forma de Deus, não teve por usurpação aferrar-se aos seus direitos e prerrogativas divinas. Esvaziou-se, assumiu a forma humana e vestiu os trajes do servi, pois sabia que, no mundo dos homens, o poder seduz e degrada quem o possui, mas o amor constrange corações na direção de Deus Pai.” Ed René Kivitz, A Outra Espiritualidade
Esse é o Reino de Deus. Onde Deus é o Rei, Cristo o Sumo Sacerdote e todos nós somos sacerdotes deste Reino, todos somos iguais.

Continua...